2. Se ao menos o pobre condenado pudesse enganar-se a si mesmo e iludir-se dizendo: Quem sabe, um dia talvez terá Deus piedade de mim e me arrancará deste abismo! Mas não, nem isto: verá sempre escrita diante de si a sentença de sua eternidade infeliz. Pois então, irá ele dizendo, todas estas penas, este fogo, estes gritos nunca mais acabarão para mim? Não, lhe será respondido, não, jamais. E durarão sempre? Sempre, por toda a eternidade. Sempre, verá escrito naquelas chamas que queimam; sempre, na ponta das espaldas que o transpassam; sempre, naqueles demônios que o atormentam; sempre, naquelas portas eternamente fechadas para ele. Oh! eternidade! oh! abismo sem fundo! oh! mar sem praias! oh! caverna sem saída! Quem não tremerá ao pensar em ti? Maldito pecado! que tremendos suplícios preparas para quem te comete! Ah! nunca mais, nunca mais pecarei durante a minha vida.
3. Mas o que deve encher de pavor é pensar que aquela horrível fornalha está sempre aberta debaixo de teus pés e que é suficiente um só pecado mortal para lá te fazer cair. Compreendes bem, meu filho, o que estás lendo? Uma pena eterna por um só pecado mortal que cometes com tanta facilidade. Uma blasfêmia, uma profanação dos dias santos, um furto, um ódio, uma palavra, um ato, um pensamento obsceno basta para seres condenado às penas do inferno. Oh! meu filho, escuta pois o meu conselho: Se a consciência te acusa de algum pecado, vai depressa confessar-te para começar uma vida boa. Põe em prática todos os meios que te indicar o confessor. Se for necessário, faze uma confissão geral. Promete que hás de fugir das ocasiões perigosas, dos maus companheiros e se Deus te indicasse até que deves deixar o mundo, segue logo a sua voz. Tudo que se fizer para evitar uma eternidade de tormentos, é pouco, é nada: Nulla nimia secúritas, ubi periclitátur aetérnitas (São Bernardo). Oh! quantos na flor da idade abandonaram o mundo, a pátria, os parentes, e foram viver isolados nas cavernas, nos desertos, alimentando-se somente de pão e água, e até às vezes só de raízes, e tudo isto para evitar o inferno! E tu, que fazes, depois de tantas vezes que mereceste o inferno com o pecado? que fazes? Lança-te aos pés do teu Deus e dize-lhe: "Senhor, estou pronto a fazer o que Vós quiserdes: nunca mais hei de pecar em minha vida; já por demais vos tenho ofendido; mandai-me todos os sofrimentos que quiserdes durante esta vida, contando que eu possa salvar a minha alma”.
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