sábado, 28 de dezembro de 2013

Próximas Missas: 29/12, 1º/1 e 5/1 às 11h

29 de dezembro - domingo - 11h
1º de janeiro - quarta-feira - 11h
5 de janeiro - domingo - 11h

Capela São Francisco de Paula - Casa d'Itália
Av. Rio Branco, 2585 - Centro - Juiz de Fora/MG

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Missas até o fim do ano

15 de dezembrodomingomonsenhor Falabella 11h




22 de dezembrodomingopadre Braz11h
25 de dezembroquarta-feiramonsenhor Falabella11h



29 de dezembrodomingomonsenhor Falabella - 11h

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Próximas Missas: SÁBADO e DOMINGO, 7 e 8 de dezembro.

Próximo sábado, 7/12/2013, às 15h, na Capela São Francisco de Paula (Casa d'Itália), será celebrada a Missa Santa Maria in Sabbato (desagravo ao Imaculado Coração).

Domingo, 8/12, às 11h, na mesma capela, haverá Missa da Imaculada Conceição.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Próxima Missa, Domingo, 24/11/2013, às 11h

Próximo domingo, 24/11/2013, às 11h, na Capela São Francisco de Paula (Casa d'Itália), será celebrada a Missa do XXIV Domingo pós-Pentecostes, último do ano litúrgico.

Sábado, 23/11, não haverá Missa.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Próxima Missa, Domingo, 17/11/2013, às 11h

Próximo domingo, 17/11/2013, às 11h, na Capela São Francisco de Paula (Casa d'Itália), será celebrada a Missa do VI Domingo depois da Epifania (por substituição aos domingos móveis pós-Pentecostes).

Sábado, 16/11, não haverá Missa.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Próxima Missa: Domingo, 10/11/2013, às 11h

Próximo domingo, 10/11/2013, às 11h, na Capela São Francisco de Paula (Casa d'Itália), será celebrada a Missa do V Domingo depois da Epifania (por substituição aos domingos móveis pós-Pentecostes).

Sábado, 9/11, não haverá Missa.

Domingos móveis depois de Pentecostes

Próximo domingo, 10/11)2013, será celebrada a Missa do V Domingo depois da Epifania.

Se os domingos depois de Pentecostes forem mais de 24, o que depende da celebração da Páscoa, as Missas que nesses foram omitidas depois da Epifania devem ser intercaladas entre o XXIII e o último domingo. Os cânticos introito, gradual, ofertório e communio são os do XXIII depois de Pentecostes.

São os chamados Domingos móveis depois de Pentecostes.
O XXIV Domingo depois de Pentecostes, que é o último do ano litúrgico, só se celebra depois destes móveis, quando houver. Depois, inicia-se novo ano com os 4 domingos do Advento.

Veja na imagem a explicação completa e a tabela com a Missa correspondente.

domingo, 3 de novembro de 2013

Lista de nossos vídeos

Por este link se tem acesso a todas as gravações relativas à Missa romana na forma extraordinária em Juiz de Fora:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLqpzoA_fgOnTkZKkTlUe0Oaz8Yppqro1K

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

As indulgências nas Missas de Todos os Fiéis Defuntos

A Igreja abre o tesouro das indulgências, conquistadas pela Paixão de Cristo e pelos méritos dos Santos, e delas enriquece os fiéis, em favor unicamente dos defuntos de suas intenções, da seguinte forma:

Uma Indulgência Plenária: visita à igreja ou oratório público ou semipúblico, durante a qual se deve rezar o Pai Nosso e o Credo, estado de graça, comunhão eucarística e oração na intenção do Santo Padre, em forma de Pai Nosso e Ave Maria, ou segundo a própria piedade e devoção.

A confissão sacramental, que concede o estado de graça requerido para o lucro da Indulgência, pode acontecer antes ou depois da realização da obra indulgenciada (Constituição Apostólica Indulgenciarum Doctrina, norma n. 8 ).

Ademais, entre os dias 1º e 08 de novembro, também há lucro diário de Indulgência Plenária apenas aplicável aos defuntos, mediante a visita ao cemitério e oração, ainda que mental, confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice. Nos restantes dias do ano, é lucrada Indulgência Parcial à alma intencionada.



(Fonte: Direto da Sacristia)

Próximas Missas: Finados e Todos os Santos


Santa Missa na forma extraordinária do Rito Romano
 -sábado, 2 de novembro de 2013, às 15h:
COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS

- domingo, 3 de novembro de 2013, às 11h:
SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS
Capela de São Francisco de Paula, na Casa d'Itália (Av. Rio Branco 2.585 – Centro – Juiz de Fora/MG)

 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

QUAS PRIMAS DE SUA SANTIDADE O PAPA PIO XI: SOBRE CRISTO REI

CARTA ENCÍCLICA

aos Veneráveis Irmãos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos e Outros Ordinários em paz e comunhão com a Sé Apostólica: SOBRE CRISTO REI.


PIO PAPA XI

Veneráveis Irmãos, saúde e bênção apostólica.

INTRODUÇÃO.
1. Na primeira Encíclica, dirigida, em princípios do nosso Pontificado, aos Bispos do mundo inteiro, indagamos a causa íntima das calamidades que, ante os nossos olhos, avassalam o gênero humano. Ora, lembra-nos haver abertamente declarado duas coisas: uma — que esta aluvião de males sobre o universo provém de terem a maior parte dos homens removido, assim da vida particular como da vida pública, Jesus Cristo e sua lei sacrossanta; a outra — que baldado era esperar paz duradoura entre os povos, enquanto os indivíduos e as nações recusassem reconhecer e proclamar a Soberania de Nosso Salvador. E por isso, depois de afirmarmos que se deve procurar "a paz de Cristo no reino de Cristo", manifestamos que era intenção nossa trabalhar para este fim, na medida de nossas forças. "No reino de Cristo", — dizíamos; porque, para restabelecer e confirmar a paz, outro meio mais eficiente não deparávamos, do que reconhecer a Soberania de Nosso Senhor. Com o correr do tempo, claramente pressentimos o raiar de dias melhores, quando vimos o zelo dos povos em acudir, — uns pela primeira vez, outros com renovado ardor, — a Cristo e à sua Igreja, única dispensadora da salvação: sinal manifesto de que muitos homens, até o presente como que desterrados do reino do Redentor, por desprezarem sua autoridade, preparam, ainda bem, e levam a efeito sua volta à obediência.
PREPARAÇÃO PROVIDENCIAL DA NOVA FESTA. O ANO SANTO.
2. Quanto, ao depois, sobreveio, quanto aconteceu no decorrer do "Ano Santo", digno, na verdade, de eterna memória, porventura não concorreu eficazmente para a honra e glória do Fundador da Igreja, de sua soberania, de sua suprema realeza?
Exposição Missionária.
Realizou-se, primeiro, a "Exposição Missionária", que, nos corações e nos espíritos dos homens, produziu tão profunda impressão. Ali vimos os incansáveis trabalhos empreendidos pela Igreja, para dilatar cada vez mais o reino de seu Esposo, em todos os continentes, em todas as ilhas, até nas mais longínquas, perdidas no oceano. Vimos quantos países conquistaram ao catolicismo à custa de seus suores, de seu sangue, nossos heróicos e destemidos missionários. Vimos as imensas regiões que ainda ficam por sujeitar ao domínio benfazejo de nosso Rei.
Peregrinações jubilares.
Realizaram-se, em seguida, romarias, vindas a Roma, durante o Ano Santo, de todas as partes do mundo, e guiadas por seus Bispos ou sacerdotes. Que motivos impeliam esses peregrinos, senão o desejo de purificarem suas almas e de proclamarem, junto ao Sepulcro dos Apóstolos e em Nossa presença, que estão e querem permanecer sob a autoridade de Cristo?
Canonizações.
Por fim, conferimos a seis Confessores ou Virgens as honras dos Santos, depois de cabalmente provadas suas admiráveis virtudes. Não brilhou, nesse dia, com novo fulgor, o reino de Jesus? Que gozo, que consolação não foi para Nossa alma, depois de proferirmos os decretos definitivos, ouvir, no majestoso recinto de S. Pedro, a imensa multidão os fiéis aclamar com uma só voz, entre cantos de ação de graças, a realeza gloriosa de Cristo — "Tu Rex gloriae, Christe!" Num tempo em que indivíduos e estados, joguetes das sedições nascidas do ódio e discórdias civis, se precipitam para a ruína e a morte, a Igreja de Deus, prosseguindo a dar ao gênero humano o alimento da vida espiritual, gera e continua a educar para Cristo gerações sucessivas de Santos e Santas, e Cristo, por sua vez, não cessa de chamar à eterna felicidade do seu reino celeste quantos se Lhe demonstraram súditos fiéis e submissos de seu reino terrestre.
Centenário do Concílio de Nicéia.
Com o grande jubileu coincidiu o 16.° centenário do Concílio de Nicéia. Mandamos festejar este aniversário secular, e Nós mesmo o comemoramos na Basílica Vaticana, com tanto melhor grado, que este Concílio definiu e proclamou dogma de fé católica a "consubstancialidade" do Unigênito de Deus com seu Pai, e, inserindo em sua fórmula de fé, ou "Credo", as palavras: "cujo reino não terá fim — cujus regni non erit finis" — com isto mesmo afirmou a dignidade real de Cristo.
Súplica em favor de Cristo-Rei.
3. Portanto, já que este ano jubilar, em mais de uma ocasião, contribuiu para pôr em realce a realeza de Cristo, julgamos cumprir um dos atos mais próprios do Nosso ofício apostólico, acedendo às súplicas, assim individuais como coletivas, de numerosos Cardeais, Bispos ou fiéis, e encerrar este ano com introduzir na liturgia da Igreja uma festa especial em honra de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei. Este argumento temo-lo tanto a peito, Veneráveis Irmãos, que desejamos entreter-nos dele convosco alguns instantes. Empenho vosso será, depois, tornar, acessível à inteligência e aos sentimentos populares quanto dissermos sobre o culto de "Cristo-Rei", de modo que a nova festa anual produza agora e no porvir múltiplos frutos.
FUNDAMENTO DOUTRINAL DA NOVA FESTA.
Cristo-Rei no sentido metafórico.
4. Muito há que a linguagem corrente dá a Cristo o nome de "Rei em sentido metafórico e transposto". "Rei" é Cristo, com efeito, atenta a eminente e suprema perfeição com que sobrepuja a todas as criaturas. Assim, dizemos que "reina sobre as inteligências humanas", por causa da penetração do seu espírito e da extensão de sua ciência, mas sobretudo porque é a própria Verdade em pessoa, de quem, portanto, é força que recebam rendidamente os homens toda verdade. Dizemos que "reina sobre as vontades humanas", porque n'Ele se alia a indefectível santidade do divino querer com a mais reta, a mais submissa das vontades humanas; e também porque suas inspirações entusiasmam nossa vontade livre pelas causas mais nobres. Dizemos, enfim, que é "Rei dos corações", por causa daquela inefável "caridade que excede a toda humana compreensão" (Ef 3, 19); e porque sua doçura e sua bondade atraem os corações: pois nunca houve, no gênero humano, e nunca haverá quem tanto amor tenha ateado como Cristo Jesus.
Cristo Deus-Homem Rei da Humanidade em sentido próprio.
5. Aprofundemos sempre mais o nosso argumento. É manifesto que o nome e o poder de "Rei", no sentido próprio da palavra, competem a Cristo em sua Humanidade, porque só de Cristo enquanto homem é que se pode dizer: do Pai recebeu "poder, honra e realeza" (Dan 7, 13-14). Enquanto Verbo, consubstanciai ao Pai, não pode deixar de Lhe ser em tudo igual e, portanto, de ter, como Ele, a suprema e absoluta soberania e domínio de todas as criaturas.
Testemunho ao Antigo Testamento.
6. Que Cristo seja Rei, não o lemos nós na Escritura? Ele é o "Dominador oriundo de Jacob" (Num 24, 19), Ele o "Rei, dado pelo Pai a Sião, sua Santa Montanha, para receber em herança as nações, e dilatar seu domínio até os confins da Terra" (Sl 2, 6. 8), Ele o verdadeiro "Rei vindouro" de Israel, que o cântico nupcial nos representa sob os traços de um soberano opulento e poderoso, a quem se dirigem estas palavras: "O teu trono, ó Deus, subsistirá por todos os séculos: a vara de retidão é a vara de teu reino" (Sl 44, 7). Omitindo muitos passos análogos, deparamos além, como, para delinear com maior nitidez a fisionomia de Cristo, vem predito que seu reino desconhecerá fronteiras e desfrutará os tesouros da justiça e da paz. "Nos dias d'Ele, aparecerá justiça e abundância de paz... E dominará de mar a mar, e desde o rio até os confins da Terra" (SL 71, 7-8). A esses testemunhos, juntam-se mais numerosos ainda os oráculos dos Profetas, e notadamente a tão conhecida profecia de Isaías: "Já um Pequenino se acha nascido para nós, e um filho nos foi dado, e foi posto o principado sobre o seu ombro; e o nome com que se apelide será Admirável, Conselheiro, Deus, Forte, Pai do futuro século, Príncipe da Paz. O seu império se estenderá cada vez mais, e a paz não terá fim; assentar-se-á sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o firmar e fortalecer em juízo e justiça, desde então e para sempre" (Is 9, 6-7).
7. Não é outro o modo como se expressam os demais Profetas. Assim fala Jeremias, quando prenuncia à descendência de David "um germe de justiça", esse filho de David, que reinará como Rei, "será sábio e obrará segundo a equidade e justiça na Terra" (Jer 23, 5). Assim Daniel, quando prediz a constituição por Deus de um reino "que não será jamais dissipado... e que durará eternamente" (Dan 2, 44). E pouco depois acrescenta: "Eu considerava estas coisas numa visão de noite, e eis que vi um, como o Filho do Homem, que vinha com as nuvens do Céu, e que chegou até o Antigo dos dias; e eles o apresentaram diante d'Ele. E Ele Lhe deu o poder, e a honra, e o reino; todos os povos, e tribos e línguas o servirão: o seu poder é um poder eterno, que Lhe não será tirado, e o seu reino tal, que não será jamais corrompido" (Dan 7, 13-14). Assim Zacarias, quando profetiza a entrada em Jerusalém, entre as aclamações do povo, do "Justo e Salvador", do Rei cheio de mansidão "montado sobre uma jumenta, e sobre o potrinho da jumenta" (Zac 9, 9). E não apontaram os Evangelistas o cumprimento desta profecia?
Testemunho do Novo Testamento.
8. Esta doutrina de "Cristo Rei", que acabamos de esboçar segundo os livros do Antigo Testamento, bem longe de apagar-se nas páginas do Novo, vem ali, ao invés, confirmada do modo mais esplêndido e em termos admiráveis. Bastará lembrar apenas a mensagem do Arcanjo à Virgem, a anunciar-lhe que dará à luz um Filho; a este Filho, Deus outorgará "o trono de David, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacob, e seu reino não terá fim" (Lc 1, 32-33). Ouçamos agora o testemunho do próprio Cristo no tocante à sua soberania. Sempre que se Lhe oferece ensejo, — em seu último discurso ao povo, sobre a recompensa e os castigos que, na vida eterna, aguardam os justos e os maus; em sua resposta ao governador romano que Lhe perguntara se era Rei; depois de sua ressurreição, quando confia aos Apóstolos a missão de instruírem e batizarem todas as nações, — reivindica o título de "Rei" (Mt 25, 31-40), e publicamente declara que é "Rei" (Jo 18, 37) e que "todo poder Lhe foi dado no Céu e sobre a Terra" (Mt 28, 18). Que entende com isto, senão afirmar a extensão de sua potência, a imensidade do seu reino? À vista disto, deverá fazer-nos estranheza que S. João o proclame "Príncipe dos reis da terra? (Apoc 1, 5) ou que, aparecendo o próprio Jesus ao mesmo Apóstolo em suas visões proféticas "traga escrito no vestido e na coxa: Rei dos reis e Senhor dos senhores"? (Apoc 19, 16). O Pai, com efeito, constituiu a Cristo "herdeiro de todas as coisas" (Heb 1, 1). Cumpre que reine até o fim dos tempos, quando "arrojará todos os seus inimigos sob os pés de Deus e do Pai" (1 Cor 15, 25).
Testemunho da Liturgia.
9. Desta doutrina comum a todos os livros santos, naturalmente dimana a seguinte conseqüência: justo é que a Igreja Católica, reino de Cristo na Terra, chamada a estender-se a todos os homens, a todas as nações do universo, multiplicando os preitos de veneração, celebre, no ciclo anual da Liturgia Santa, a seu Autor e Instituidor como a Rei, como a Senhor, como a Rei dos reis. Com admirável variedade de fórmulas, estas homenagens expressam um e o mesmo pensamento; desses títulos servia-se a Igreja outrora no divino ofício e nos antigos sacramentados; repete-os ainda agora, nas preces públicas, que todos os dias dirige à Infinita Majestade e na oblação da Hóstia Imaculada. Nesse louvor ininterrupto de Cristo-Rei, nota-se para logo a formosa harmonia dos nossos ritos com os ritos orientais, verificando-se aqui também a verdade, do prolóquio: "as normas da oração confirmam os princípios da Fé".
Argumento teológico.
10. O fundamento sobre que pousa esta dignidade e poder de Nosso Senhor, define-o exatamente S. Cirilo de Alexandria, quando escreve: "Numa palavra, possui o domínio de todas as criaturas, não pelo ter arrebatado com violência, senão em virtude de sua essência e natureza" (In Lucam, 10). Esse poder dimana daquela admirável união que os teólogos chamam de "hipostática". Portanto, não só merece Cristo que anjos e homens O adorem como a seu Deus, senão que também devem homens e anjos prestar-Lhe submissa obediência como a Homem. E assim, só em força dessa união, a Cristo cabe o mais absoluto poder sobre todas as criaturas, posto que, durante sua vida mortal, renunciasse ao exercício desse domínio.
— Mas haverá, outrossim, pensamento mais suave do que refletir que Cristo é nosso Rei não só por direito de natureza, mas também a título de Redentor? Lembrem-se os homens esquecidos de quanto custamos a nosso Salvador. "Não fostes resgatados a preço de coisas perecíveis, prata e outro, mas com o sangue precioso de Cristo, como de cordeiro sem mancha nem defeito" (1 Ped 1, 18-19). Já nos não pertencemos, pois que deu Cristo por nós "tão valioso resgate" (1 Cor 6, 20). Até nossos corpos são "membros de Cristo" (1 Cor 6, 15).
ÍNDOLE DA REALEZA DE CRISTO
A Cristo-Rei cabe o poder legislativo, judicial, executivo.
11. Para dizer, em poucas palavras, a importância e índole desta realeza, será apenas necessário asserir que abrange um tríplice poder constitutivo, essencial de toda realeza verdadeira. Provam-no de sobejo os testemunhos de toda a Escritura no tocante à dominação universal de nosso Redentor, e é artigo de fé católica: Cristo Jesus foi dado aos homens não só como Redentor, que lhes merece toda confiança, mas também como Legislador, a quem devemos prestar obediência (Conc. Trid., Sess. 6, can. 21). E com efeito, não dizem os Evangelhos tão só que promulgou leis, mas no-lo representam no ato de promulgar as leis. A quantos observarem os seus preceitos, declara o Divino Mestre, em várias ocasiões e de diversos modos, que com isto mesmo Lhe hão de provar o seu amor e permanecer em sua caridade (Jo 14, 15); 15, 10). — Quanto ao "poder judicial", declara o próprio Jesus havê-lo recebido de seu Pai, em resposta aos judeus, que o haviam acusado de violar o descanso do sábado, curando milagrosamente, neste dia, a um paralítico. "O Pai, disse-lhes o Salvador, não julga a ninguém, mas deu todo juízo ao Filho" (Jo 5, 22). Esse poder judicial igualmente inclui o "direito", — que se não pode dele separar, — de "premiar" e "punir" aos homens, mesmo durante a vida. — A Cristo compete o "poder executivo", porquanto devem todos sujeitar-se ao seu domínio, e quem for rebelde não poderá evitar a condenação e os suplícios, que Jesus prenunciou.
Realeza espiritual.
12. Esta realeza, porém, é principalmente interna e respeita sobretudo a ordem espiritual. Provam-no com toda evidência as palavras da Escritura acima referidas, e, em muitas circunstâncias, o proceder do próprio Salvador. Quando os judeus, e até os Apóstolos, erradamente imaginavam que o Messias libertaria seu povo para restaurar o reino de Israel, Jesus desfez o erro e dissipou a ilusória esperança. Quando, tomada de entusiasmo, a turba, que O cerca, O quer proclamar rei, com a fuga furta-se o Senhor a estas honras, e oculta-se. Mais tarde, perante o governador romano, declara que seu reino "não é deste mundo". Neste reino, tal como no-lo descreve o Evangelho, é pela penitência que devem os homens entrar. Ninguém, com efeito, pode nele ser admitido sem a fé e o batismo; mas o batismo, conquanto seja um rito exterior, figura e realiza uma regeneração interna. Este reino opõe-se ao reino de Satanás e ao poder das trevas; de seus adeptos exige o desprendimento não só das riquezas e dos bens terrestres, como ainda a mansidão, a fome e sede da justiça, a abnegação de si mesmo, para carregar com a cruz. Foi para adquirir a Igreja que Cristo, enquanto "Redentor", verteu o seu sangue; para isto é, que, enquanto "Sacerdote", se ofereceu e de contínuo se oferece como vítima. Quem não vê, em conseqüência, que sua realeza deve ser de índole toda espiritual, e participar da natureza deste seu duplo ofício?
13. Todavia, fora erro grosseiro denegar a Cristo Homem a soberania sobre as coisas temporais todas, sejam quais forem. Do Pai recebeu Jesus o mais absoluto domínio das criaturas, que Lhe permite dispor delas todas como Lhe aprouver. Contudo, enquanto viveu sobre a Terra, absteve-se totalmente de exercer este domínio temporal, e desprezou a posse e regimento das coisas humanas, que deixou — e deixa ainda — ao arbítrio e domínio dos homens. Verdade graciosamente expressa no conhecido verso: "Não arrebata diademas terrestres, quem distribui coroas celestes. — Non eripit mortalia, qui regna dat caelestia" (Hino Crudelis Herodes, of. da Epif.).
Realeza universal.
14. Assim, pois, a realeza do nosso Redentor abraça a totalidade dos homens. Sobre este ponto, de muito bom grado fazemos Nossas as palavras seguintes de Nosso Predecessor Leão XIII, de imortal memória: "Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro" (Encícl. Annum Sacrum, 25 de Maio de 1899). E, neste particular, não cabe fazer distinção entre os indivíduos, as famílias e os estados; pois os homens não estão menos sujeitos à autoridade de Cristo em sua vida coletiva do que na vida individual. Cristo é fonte única de salvação para as nações como para os indivíduos. "Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos" (At 4, 12). Dele provêm ao estado como ao cidadão toda prosperidade e bem-estar verdadeiro. "Uma e única é a fonte da ventura, assim para as nações como para os indivíduos, pois outra coisa não é a cidade mais que uma multidão concorde de indivíduos" (S. Aug., Epíst. ad Macedonium, c. 3). Não podem, pois, os homens de governo recusar à soberania de Cristo, em seu nome pessoal e no de seus povos, públicas homenagens de respeito e submissão. Com isto, sobre estearem o próprio poder, hão de promover e aumentar a prosperidade nacional.
BENEFÍCIOS SOCIAIS DESTA REALEZA
Crise da autoridade.
15. Ao subirmos à cátedra pontifical, deplorávamos o lastimável decaimento em que vemos abatido o prestígio do direito e a reverência à autoridade. Quanto então dizíamos não é hoje menos atual ou oportuno. "Excluídos da legislação e dos negócios públicos Deus e Jesus Cristo, e derivando, os que regem, o seu poder, não já do alto, mas dos homens, aconteceu que ruiu o próprio fundamento da autoridade, em conseqüência de estar removida a razão fundamental do direito que a uns assiste de mandar, e da obrigação conseqüente que têm outros de obedecer. Seguiu-se daí forçosamente um abalo na humana sociedade inteira, falha assim de amparo e sustentáculo firme" (Encícl. Ubi arcano, DP 19). Se soubessem resolver-se os homens a reconhecer a autoridade de Cristo em sua vida particular e pública, para logo deste ato dimanariam em toda a humanidade incomparáveis benefícios: —: uma justa liberdade, a ordem e o sossego, a concórdia e a paz.
No interior dos estados.
16. Com dar à autoridade dos príncipes e chefes de governo certo caráter sagrado, a dignidade real de Nosso Senhor enobrece com isto mesmo os deveres e a sujeição dos cidadãos. Tanto assim que o Apóstolo S. Paulo, depois de prescrever às mulheres casadas e aos escravos de reconhecerem a Cristo na pessoa de seus maridos e senhores, lhes recomendava, ainda assim, de obedecerem não servilmente, como a homens, mas tão só em espírito de fé como a representantes de Cristo, porque ,é indigno de uma alma resgatada por Cristo obedecer com servilismo a um homem. "Fostes resgatados com grande preço: não estejais sujeitos já como escravos a homens" (1 Cor 7, 23). Se os príncipes e governos legitimamente constituídos tivessem a persuasão de que regem menos no próprio nome do que em nome e lugar do Rei Divino, é manifesto que usariam do seu poder com toda a prudência, com toda a sabedoria possíveis. Em legislar e na aplicação das leis, como haveriam de atender ao bem comum e à dignidade humana de seus súbditos! Então floresceria a ordem, então víramos difundir-se e firmar-se a tranqüilidade e a paz; embora o cidadão reconhecesse nos príncipes e chefes de governo homens iguais a si pela natureza ou mesmo, por algum respeito, indignos ou repreensíveis, não deixara por isto de lhes obedecer, por depreender neles a imagem e autoridade de Cristo, Deus-Homem.
Vantagens sociais para as nações.
17. Pelo que respeita à concórdia e à paz, é manifesto que, quanto mais vasto é um reino, quanto mais largamente abraça o gênero humano, tanto é maior a consciência em seus membros do vínculo de fraternidade que os une. Esta consciência, assim como remove e dissipa os freqüentes conflitos, assim também atenua e suaviza os amargores que dos conflitos nascem. E se o reino de Cristo abarcara de fato, como de direito abarca, as nações todas, porque deveríamos perder a esperança dessa paz que à Terra veio trazer o Rei pacífico, esse Rei que veio "para reconciliar todas as coisas" (Col 1, 20), "que não veio para ser servido, mas para servir aos outros" (Mc 10, 45) e que, embora "Senhor de todos" (Gál 4, 1), deu exemplo de humildade e principalmente inculcou esta virtude, de envolta com a caridade, acrescentando: "Meu jugo é suave, e é leve minha carga" (Mt 11, 30). Oh! que ventura não pudéramos gozar, se os indivíduos, se as famílias, se a sociedade se deixasse reger por Cristo! "Então, finalmente — para citarmos as palavras que, há 25 anos, Nosso Predecessor Leão XIII dirigia aos Bispos do mundo inteiro — então fora possível sanar tantas feridas; o direito recobrara seu antigo viço, seu prestígio de outras eras; então tornaria a paz com todos os seus encantos e cairiam das mãos armas e espadas, quando todos de bom grado aceitassem o império de Cristo, Lhe obedecessem, e toda língua proclamasse que "Nosso Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Padre" (Ene. Annum Sacrum).
A FESTA DE JESUS CRISTO-REI
18. E a fim de que a sociedade cristã goze largamente de tão preciosas vantagens e para sempre as conserve, é mister que se divulgue quanto possível o conhecimento da dignidade real de Nosso Salvador. Ora, nada pode, pelo que Nos parece, conseguir melhor este resultado, do que a instituição de uma festa própria e especial em honra de Cristo-Rei.
Influência da liturgia na vida cristã.
19. Com efeito, para instruir o povo nas verdades da fé e levá-lo assim às alegrias da vida interna, mais eficazes que os documentos mais importantes do Magistério eclesiástico são as festividades anuais dos sagrados mistérios. Os documentos do Magistério, de fato, apenas alcançam um restrito número de espíritos mais cultos, ao passo que as festas atingem e instruem a universalidade dos fiéis. Os primeiros, por assim dizer, falam uma vez só, as segundas falam sem interminência de ano para ano; os primeiros dirigem-se, sobretudo, ao entendimento; as segundas influem não só na inteligência, mas também no coração, quer dizer — no homem todo. Composto de corpo e alma, precisa o homem dos incitamentos exteriores das festividades, para que, através da variedade e beleza dos sagrados ritos, recolha no ânimo a divina doutrina, e, transformando-a em substância e sangue, tire dela novos progressos em sua vida espiritual.
Origem histórica e providencial das festas na Igreja.
20. Além disso, ensina-nos a própria história, que estas festividades litúrgicas foram introduzidas, no decorrer dos séculos, umas após outras, para responder a necessidades ou vantagens espirituais do povo cristão. Foram-se constituindo para fortalecer os ânimos em presença de algum perigo comum, para premunir os espíritos contra os ardis da heresia, para mover e inflamar os corações a celebrar com mais ardente piedade algum mistério de nossa fé ou algum benefício da divina graça. Assim é que, desde os primeiros tempos da era cristã, quando, acossados das mais cruentas perseguições, os fiéis começaram, com sagrados ritos, a comemorar os mártires, para que — como diz S. Agostinho — "as solenidades dos mártires fossem exortação ao martírio" (Sermo 47, de Sanctis). As honras litúrgicas, mais tardes decretadas aos confessores, às virgens, às viúvas, contribuíram singularmente para promover nos fiéis o zelo pela virtude, indispensável mesmo em tempo de paz. Especialmente as festas em honra da Virgem Beatíssima fizeram com que o povo cristão não só tributasse à Mãe de Deus, sua Protetora por excelência, culto mais assíduo, senão que ao mesmo tempo fosse de contínuo crescendo seu amor filial à Mãe que o Redentor lhe deixara como que em testamento. Dentre os benefícios que dimanaram do culto público e legitimamente prestado à Mãe de Deus e aos Santos do Céu, não é o menor a vitória constante com que a Igreja se cobriu de louros, ao debelar e repelir a heresia e o erro. E nisto devemos admirar os desígnios da Divina Providência, que, segundo costuma, tira o bem do mal. Permitiu que, de tempos a tempos, entibiasse a fé e a piedade popular; permitiu que doutrinas errôneas armassem insídias à piedade católica, mas sempre com o intuito de fazer finalmente fulgir a verdade com novo esplendor e mover os fiéis, espertos da tibieza, a tenderem com novo zelo a graus mais elevados de santidade e perfeição cristã. Idêntica é a origem, idênticos os frutos que produziram as solenidades recentemente introduzidas no calendário litúrgico. Tal é a festa do "Corpus Christi", instituída quando se esfriava a reverência e o culto para com o SS. Sacramento; celebrada com brilho singular, protraída por oito dias de suplicações coletivas, a nova solenidade devia reconduzir os povos à adoração pública do Senhor. Tal é a festa do Coração Santíssimo de Jesus estabelecida na época em que, abatidos e desalentados pelas tristes doutrinas e o rigorismo sombrio do jansenismo, os fiéis sentiam seus corações regelados e com escrúpulo deles excluíam todo sentimento de amor de Deus e a esperança de conseguirem a eterna salvação.
Oportunidade da festa.
21. Para Nós também soou a hora de provermos às necessidades dos tempos presentes e de opormos um remédio eficaz à peste que corrói a sociedade humana. Fazemo-lo, prescrevendo ao universo católico o culto de Cristo-Rei. Peste de nossos tempos é o chamado "laicismo", com seus erros e atentados criminosos.
Excessos do laicismo.
22. Como bem sabeis, Veneráveis Irmãos, não é num dia que esta praga chegou à sua plena maturação; há muito, estava latente nos estados modernos. Começou-se, primeiro, a negar a soberania de Cristo sobre todas as nações; negou-se, portanto, à Igreja o direito de doutrinar o gênero humano, de legislar e reger os povos em ordem à eterna bem-aventurança. Aos poucos, foi equiparada a religião de Cristo aos falsos cultos e indecorosamente rebaixada ao mesmo nível. Sujeitaram-na, em seguida, à autoridade civil, entregando-a, por assim dizer, ao capricho de príncipes e governos. Houve até quem pretendesse substituir à religião de Cristo um simples sentimento de religiosidade natural. Certos estados, por fim, julgaram poder dispensar-se do próprio Deus e fizeram consistir sua religião na irreligião e no esquecimento consciente e voluntário de Deus.
Frutos perniciosos do laicismo.
23. Os frutos sobremodo amargosos que, tantas vezes e com tanta persistência, produziu esta apostasia dos indivíduos e dos estados, que desertam a Cristo, expendemo-los na Encíclica "Ubi arcano". Tornamos a lamentá-los hoje. Frutos desta apostasia são os germes de ódio esparsos por toda parte, as invejas e rivalidades entre nações, que alimentam as discórdias internacionais e dificultam ainda agora a restauração da paz; frutos desta apostasia as ambições desenfreadas, que muitas vezes se encobrem com a máscara do interesse público e do amor da pátria, e suas tristes conseqüências: dissensões civis, egoísmo cego e desmedido, sem outro fito nem outra regra mais que vantagens pessoais e proveitos particulares. Fruto desta apostasia a perturbação da paz doméstica, pelo esquecimento e desleixo das obrigações familiares, o enfraquecimento da união e estabilidade no seio das famílias, e por fim o abalo na sociedade toda, que ameaça ruir.
Pusilanimidade de certos católicos.
24. A festa, doravante ânua, de "Cristo-Rei" dá-nos a mais viva esperança de acelerarmos a tão desejada volta da humanidade a seu Salvador amantíssimo. Fora, com certeza, dever dos católicos, apressar e preparar esta volta com diligente empenho; a muitos deles, contudo, pelo que parece, não toca, na sociedade civil, o posto e a autoridade que conviriam aos apologistas da fé. Talvez deva este fato atribuir-se à indolência e timidez dos bons que se abstêm de toda resistência, ou resistem com moleza, donde provém, nos adversários da Igreja, novo acréscimo de pretensões e de audácia. Mas, desde que a massa dos fiéis se compenetre de que é obrigação sua combater com valentia e sem tréguas sob os estandartes de Cristo-Rei, o zelo apostólico abrasará seus corações, e todos se esforçarão de reconciliar com o Senhor as almas que o ignoram ou dele desertaram; todos, enfim, se esforçarão por manter inviolados os direitos do próprio Deus.
Protesto e reparação.
25. Mas não basta. Uma festa, anualmente celebrada por todos os povos em homenagem a Cristo-Rei, será sobremaneira eficaz para condenar e ressarcir, de algum modo, esta apostasia pública, tão desastrada para as nações, gerada pelo laicismo. Com efeito, quanto mais vergonhosamente se passa em silêncio, quer nas conferências internacionais, quer nos Parlamentos, o nome suavíssimo do nosso Redentor, tanto mais alto o devemos aclamar, tanto mais devemos reconhecer os direitos que a Cristo conferem sua dignidade e poder real.
CONVENIÊNCIAS ATUAIS DA INSTITUIÇÃO DA FESTA.
Precedentes da festa de Cristo-Rei.
26. E quem não vê que, desde os últimos anos do século passado, se ia, de modo admirável, preparando o caminho à instituição desta festa? Ninguém, com efeito, ignora como, com livros que se escreveram nas várias línguas do mundo inteiro, este culto foi explicado e doutamente defendido. Sabem todos que a autoridade e realeza de Cristo foi já reconhecida pela piedosa prática de se consagrarem e dedicarem ao Sagrado Coração de Jesus famílias inumeráveis. E não só famílias, mas também estados e reinos praticaram o mesmo ato. Antes, por iniciativa e direção de Leão XIII, o universo gênero humano foi felizmente consagrado a este Coração Santíssimo, no correr do Ano Santo de 1900. Não podemos preterir os congressos eucarísticos que nossa época viu multiplicar-se em tão grande número. Tão bem serviram à causa da solene proclamação humana. Reunidos para apresentar à veneração e às homenagens populares de uma diocese, de uma província, de uma nação, ou mesmo do mundo inteiro, Cristo-Rei, oculto sob os véus eucarísticos, esses congressos, em conferências realizadas nas suas assembléias, em sermões proferidos nas igrejas, por meio da exposição pública ou da adoração em comum do Santíssimo Sacramento e de grandiosas procissões, enaltecem a Cristo como a Rei que de Deus receberam os homens. Este Jesus, que os ímpios recusaram acolher quando veio a seu reino, pode-se dizer, com toda a verdade, que o povo cristão, movido de uma inspiração divina, vai arrancá-l'O ao silêncio e, por assim dizer, à obscuridão dos templos, para levá-l'O, qual triunfador, pelas ruas das grandes cidades e reintegrá-1'O em todos os direitos de sua realeza.
Excelentes disposições dos fiéis ao saírem do jubileu.
27. Para a realização deste Nosso desígnio, de que acabamos de falar, oferece-Nos ensejo sumamente oportuno o "Ano Santo" que finda. Este ano veio relembrar ao espírito e ao coração dos fiéis os bens celestes que sobrepujam todo sentimento natural. Em sua bondade infinita, Deus restitui a uns a sua graça, e confirma a outros no bom caminho, infundindo-lhes novo ardor para aspirarem a dons mais perfeitos. Quer atendamos às numerosas súplicas que nos foram dirigidas, quer consideremos os acontecimentos que se dirigidas, quer consideremos os acontecimentos que se deram no correr do "Ano Santo", sobeja razão nos assiste de pensarmos que deveras para Nós soou a hora de proferirmos a sentença tão ansiosamente de todos aguardada e que decretemos uma festa especial em honra de Cristo, Rei de todo o gênero humano. Durante este ano, com efeito, como a princípio dissemos, este divino Rei, deveras admirável em seus Santos, conquistou novos triunfos, com a elevação às honras dos altares de mais um manípulo de soldados seus. Durante este ano, uma exposição extraordinária pôs ante os olhos do mundo as fadigas e, de algum modo, os próprios trabalhos dos arautos do Evangelho, e todos puderam admirar as vitórias ganhas por esses campeões de Cristo, para a extensão do seu reino; durante este ano, finalmente, com o centenário do Concílio de Nicéia, comemoramos, contra os seus detratores, a defesa e definição do dogma da consubstancialidade do Verbo Humanado com seu Pai, verdade na qual descansa, como em fundamento, a soberania de Cristo sobre todos os povos.
Data e modalidade da festa.
28. Portanto, em virtude de Nossa autoridade apostólica, instituímos a festa de "Nosso Senhor Jesus Cristo Rei", mandando que seja celebrada cada ano, no mundo inteiro, no último domingo de Outubro imediato à solenidade de Todos os Santos. Prescrevemos igualmente que, cada ano, se renove, nesse dia, a consagração do gênero humano ao Coração de Jesus, que já Nosso Predecessor de saudosa memória Pio X ordenara se fizesse anualmente. Contudo, queremos que, neste ano, a renovação se faça a 31 de Dezembro; nesse dia, celebraremos missa pontifical em honra de "Cristo-Rei", e mandaremos proferir, em Nossa presença, o ato de consagração. Quer parecer-Nos que não pode haver melhor encerramento do "Ano Santo", e que destarte daremos a "Cristo, Rei Imortal dos séculos", o testemunho mais eloqüente de nossa gratidão e do reconhecimento do universo católico, de quem Nos fazemos intérpretes, pelos benefícios que, neste período de graças, concedeu a Nós mesmo, à Igreja, à cristandade toda.
Objeto formal da nova festa.
29. É escusado, Veneráveis Irmãos, explicar-vos longamente os motivos de uma festa especial em honra de "Cristo-Rei". Pois, conquanto outras festas, já existentes, enalteçam e de algum modo glorifiquem sua dignidade real, basta, contudo, observar que, se todas as festas de Nosso Senhor têm a Cristo, segundo a linguagem dos teólogos, por "objeto material", de modo algum é o poder e apelativo de Rei "objeto formal" das mesmas.
Seu lugar no ciclo litúrgico.
30. Fixando a nova festa em um domingo, quisemos que o clero fosse o único em prestar suas homenagens a "Cristo-Rei", com a celebração do Santo Sacrifício e a reza do Santo Ofício, mas que o povo, desimpedido de suas ocupações ordinárias, e animado de santa alegria, pudesse dar a Cristo, como a seu Senhor e Soberano, um manifesto testemunho de obediência. Finalmente mais apropriado Nos pareceu o último domingo de Outubro, porque este domingo, em certo modo, encerra o ciclo do ano litúrgico; destarte, os mistérios da vida de Jesus Cristo, comemorados no decorrer do ano que finda, terão na solenidade de "Cristo-Rei" seu como termo e coroa, e antes de celebrar a glória de todos os Santos, a liturgia proclamará e enaltecerá a glória d'Aquele que em todos os Santos e em todos os eleitos triunfa. É dever, é direito vosso, Veneráveis Irmãos, fazer preceder a festa por uma série de instruções que se dêem, em dias determinados, nas diferentes paróquias, para instruir acuradamente o povo da natureza, significado e importância desta festa, por onde os fiéis regulem a sua vida em modo a torná-la digna de súbditos leais e submissos de coração à soberania do Divino Rei.
Esperanças e augúrios.
31. Ao fecharmos esta carta, quiséramos ainda, Veneráveis Irmãos, expor-vos brevemente os frutos, que, tanto para a Igreja e a sociedade civil, como para cada um dos fiéis, esperamos deste culto público prestado a Cristo-Rei.
Melhor compreensão dos direitos da Igreja.
32. A obrigação de tributar à soberania de Nosso Senhor as homenagens, a que nos referimos, relembra, juntamente, aos homens os direitos da Igreja. Instituída por Cristo, que lhe deu a forma orgânica de sociedade perfeita, exige, em virtude deste direito, que dimana de sua origem divina e que ela não pode abdicar, a plena liberdade, a independência absoluta do poder civil. No desempenho de sua divina missão, de ensinar, reger e conduzir à eterna felicidade todos os membros do reino de Cristo, não pode, de modo algum, depender de vontade estranha. Antes, idêntica liberdade deve o estado conceder às ordens e congregações religiosas de ambos os sexos, pois são os auxiliares mais firmes dos Pastores da Igreja, os que mais eficazmente se empenham em difundir e confirmar o reinado de Cristo, primeiro debelando em si, com a profissão religiosa, o mundo e sua tríplice concupiscência, e depois, pelo fato de haverem abraçado uma profissão de vida mais perfeita, fazendo resplandecer aos olhos de todos, com fulgor contínuo e cada dia crescente, esta santidade de que o divino Fundador quis fazer uma nota distinta de sua Igreja autêntica.
Restauração do culto público e oficial.
33. Com a celebração ânua desta festa hão de relembrar-se, outrossim, os Estados que aos governos e à magistratura incumbe a obrigação, bem assim como aos particulares, de prestar culto público a Cristo e sujeitar-se às suas leis. Lembrar-se-ão também os chefes da sociedade civil do juízo final, quando Cristo acusará aos que o expulsaram da vida pública, e a quantos, com desdém, o desprezaram ou desconheceram; de tamanha afronta há de tomar o Supremo Juiz a mais terrível vingança; seu poder real, com efeito, exige que o Estado se reja totalmente pelos mandamentos de Deus e os princípios cristãos, quer se trate de fazer leis, ou de administrar a justiça, quer da educação intelectual e moral da juventude, que deve respeitar a sã doutrina e a pureza dos costumes.
Grande impulso à piedade dos fiéis.
34. Que energias, além disso, que virtude não poderão os fiéis haurir da meditação destas verdades, para amoldar seus espíritos aos princípios verdadeiros da vida cristã! Se todo o poder foi dado ao Senhor Jesus, no céu e na terra, se os homens, resgatados pelo seu sangue preciosíssimo, se tornam, com novo título, súditos de seu império, se, finalmente, este poder abraça a natureza humana em seu conjunto, é claro que nenhuma de nossas faculdades se pode subtrair a essa realeza. É mister, pois, que reine em nossas inteligências: com plena submissão, com adesão firme e constante, devemos crer as verdades reveladas e os ensinos de Cristo. É mister que reine em nossas vontades: devemos observar as leis e os mandamentos de Deus. É mister que reine em nossos corações: devemos mortificar nossos afetos naturais, e amar a Deus sobre todas ,as coisas. É mister que reine em nossos corpos e em nossos membros: devemos transformá-los em instrumentos, ou, para falarmos com S. Paulo (Rom 6, 13), "em armas de justiça, oferecidas a Deus", para aumento da santidade de nossas almas. Eis os pensamentos que, propostos à reflexão dos fiéis e atentamente ponderados, hão de facilmente levá-los a mais elevada perfeição.
Augúrio final.
35. Praza a Deus, Veneráveis Irmãos, que os homens, afastados da Igreja, procurem e aceitem, para salvação de suas almas, o jugo suave de Cristo. Quanto a nós todos, por divina misericórdia, súbditos e filhos seus, queira Deus que levemos este jugo, não de má vontade, mas com prazer, mas com amor, mas santamente. Assim, no decorrer de uma vida pautada pelas leis do reino do céu, recolheremos, alegres, grande cópia de frutos, e mereceremos que Cristo, reconhecendo-nos por bons e fiéis servidores de seu reino terrestre, nos admita, depois, a participar com Ele da eterna felicidade e da glória sem fim em seu reino celeste.
Aceitai, Veneráveis Irmãos, ao decorrerem as festas natalícias do Senhor, este presságio e este augúrio, como prova de Nosso paternal afeto, e, como penhor de divinos favores, recebei a bênção apostólica, que, com toda a alma, vos concedemos a Vós, Veneráveis Irmãos, ao vosso clero e à vossa grei.
Dada em Roma, junto a S. Pedro, aos 11 de Dezembro do Ano Santo de 1925, quarto do Nosso Pontificado. PIO PP. XI


[II EDIÇÃO, 1950, EDITORA VOZES LTDA., Petrópolis, R. J. RIO DE JANEIRO — SÃO PAULO
IMPRIMA-SE
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO DA CUNHA CINTRA, BISPO DE PETRÓPOLIS. FREI LAURO OSTERMANN O. F. M, PETRÓPOLIS, 9-11-1950.
Fonte: http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=1363:sobre-cristo-rei-quas-primas&catid=112:artigos-de-teologia&Itemid=468]

Missa da Solenidade de Cristo Rei (vídeo 2012)

Missa celebrada em 27/10/2012 na Capela Senhor dos Passos, Juiz de Fora.

No próximo dia 27 de outubro de 2013, celebraremos a mesma solenidade, na Capela São Francisco de Paula, Juiz de Fora, às 11h.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Da confiança em Deus

Ainda que a desconfiança de si seja importante e necessária nesse combate, não deves socorrer-te somente desse meio, pois serias facilmente desarmada e vencida pelos teus inimigos. Por isso, é também necessária a total confiança em Deus, que é o autor de todo o bem, e de quem se deve unicamente esperar a vitória.

Porque, assim como de nós, que nada somos, não se pode esperar senão quedas, pelo que devemos sempre desconfiar de nossas forças, em contrapartida devemos sempre confiar no socorro e assistência divina para obter grandes vitórias sobre nossos inimigos; e assim o faremos se estivermos perfeitamente convencidos da nossa fraqueza e com o coração cheio de uma viva e generosa confiança na infinita bondade.

Também essa excelente virtude pode ser obtida de quatro modos:

O primeiro é pedi-la com humildade ao Senhor.

O segundo, considerar e ver com os olhos da fé a onipotência e sabedoria infinitas daquele Ser soberano, a quem nada é impossível ou difícil (Lc 1,37) e que, por pura bondade e por seu infinito amor por nós, mostra-se pronto e disposto a conceder-nos a cada momento o que é preciso para a vida espiritual e para a inteira vitória sobre nós mesmos, se nos refugiamos em seus braços com filial confiança.

Este doce e gentil pastor, que por 33 anos correu atrás da ovelha perdida e sem rumo, chamando-a até perder a voz e ferindo-se nos espinhos até derramar todo o seu sangue para trazê-la de volta dos despenhadeiros e veredas perigosas para um caminho santo e seguro, da perdição à saúde, da ferida ao remédio, da morte à vida, como poderia ficar indiferente à ovelha que o segue na obediência aos seus santos preceitos, ou que ao menos tem o desejo sincero (ainda que imperfeito e fraco) de o fazer? Como poderia não voltar para ela os Seus olhos de vida e misericórdia, ou, ao ouvir os seus gemidos, não a colocar amorosamente sobre os Seus ombros, alegrando-se com os anjos do céu pela volta do seu rebanho e pela troca do pasto venenoso e mortal do mundo pelo manjar suave e farto da virtude? Ele que, com tanto ardor e diligência, buscou a dracma perdida do evangelho, que é a figura do pecador, como poderia abandonar a quem, triste e aflito por não ver o seu pastor, o busca e o chama?

Quem poderia acreditar que Deus, que continuamente bate à porta do nosso coração com o desejo de nele entrar para cear conosco e comunicar-nos abundantemente os Seus dons, no momento em que lhe abrimos a porta e o convidamos, possa recusar-se a entrar? (Apoc 3,20)

O terceiro meio para adquirir essa santa confiança é recordar as verdades e oráculos infalíveis da Sagrada Escritura, que asseguram que os que esperam e confiam em Deus não serão jamais confundidos.

O quarto e último meio, que permite adquirir ao mesmo tempo a desconfiança de si e a confiança em Deus, consiste em, antes de começar qualquer coisa, seja uma boa obra ou o combate a uma paixão, ter em mente a própria fraqueza e invocar o poder, a sabedoria e a bondade infinita de Deus, determinando-se então a combater generosamente. Com essas armas, unidas à oração, serás capaz de realizar grandes feitos e vitórias.

Se, porém, não observares essa regra, ainda que pareças animada de uma verdadeira confiança em Deus, estarás enganada, porque é tão natural ao homem a própria presença, que insensivelmente se confundem a confiança que ele imagina ter em Deus e a confiança que, na verdade, tem em si mesmo.

Para te livrares dessa presunção, minha filha, e trabalhares sempre as duas virtudes que se opõem a este vicio, é necessário que a consideração da tua fraqueza ande junto com a da onipotência divina.

(Lorenzo Sculpoli, O Combate Espiritual. São Paulo: Cultor de Livros, 2012. Um dos livros favoritos de São Francisco de Sales)

A Infância Espiritual de Santa Teresinha e os Sacramentos

Porque está toda cheia do amor de Jesus, a alma [na infância espiritual segundo o método de Santa Teresinha] nutre terno respeito para com os sacramentos e para com as coisas do culto sagrado.

Nas instruções divinas da palavra de Deus, esta alma pequenina, instruída por divina inspiração, vê mais profundo do que o soído das palavras e das frases e distingue sentidos novos e luzes altíssimas, sente gosto e prazer neste alimento celeste.

Há um encanto oculto em tudo o que é sagrado. No sacramento da penitência deves ver um meio doce de mergulhar no sangue do Senhor e limpar-te até dos resquícios de poeira. Terás para com a Eucaristia uma atração irresistível. A comunhão será o teu céu sobre a terra.

As festas litúrgicas da Igreja com suas pomposas comemorações fazem a alma pequenina viver num ambiente embalsamado do incenso delicioso da piedade. É uma fonte puríssima onde se bebe com avidez.

(...)

Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face
Deves ter fome das coisas divinas e é nos sacramentos que te alimentarás. Não aproves as almas que, escrupulosas, enganadas pelo demônio, se afastam da comunhão, privando Jesus de seu verdadeiro tabernáculo que é nosso coração, porque não desce o Senhor do céu para ficar no cibório de ouro, senão para descer ao cibório de nossa alma.

[O Catecismo de São Pio X lembra que são necessárias apenas três coisas para fazer uma comunhão bem feita: estar em estado de graça (se estiver em pecado mortal deve-se confessar e não basta a contrição perfeita); estar em jejum uma hora antes da comunhão; e saber o que se vai receber, ou seja, Nosso Senhor Jesus Cristo, em consequência, aproximar-se da sagrada Comunhão com devoção.]

O céu de Jesus, onde encontra suas delícias, é o nosso coração tão pobrezinho e tão necessitado de Deus.

É assim que te fortaleces para os pesados combates da vida. Deve ser grande teu amor pela sagrada comunhão, a ponto de arrastares todo e qualquer sacrifício para receber o pão sagrado todos os dias, achando na comunhão a melhor paga de teus trabalhos e sofrimentos.

O Senhor, que enche a terra de seus mistérios e maravilhas, há de cumprir e completar todos os teus desejos, porque esses anseios foi ele mesmo que os colocou em teu coração. Ora, Deus não inspiraria desejos que não quisesse cumprir. Alimenta pois o desejo de viver intimamente unido a ele sobre a face da terra, sem interrupção.

Do amor entranhado à eucaristia, serás levado a apreciar de modo particular o caráter sublime do sacerdócio. Que respeito e amor merecem aqueles que sobem o altar do Senhor para realizar os sagrados mistérios!

(Extraído do livro “A Infância Espiritual (Santa Teresinha), do monsenhor Ângelo R. Lucena. São Paulo: Paulus, 1987)

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Meditações de São João Bosco: O Paraíso

1. Se muito nos apavora o pensamento e a consideração do inferno, igualmente nos consola a lembrança do Paraíso, preparado por Deus para todos os que o amam e o servem durante esta vida. Para que possas fazer dele uma ideia, contempla uma noite serena. Como é belo ver o Céu com aquela multidão e variedade de estrelas! Umas menores, outras maiores: enquanto umas despontam no horizonte, outras estão prestes a desaparecer; todas porém com boa ordem e segundo a vontade do seu Criador. Acrescenta a isto a visão de um belo dia, mas de tal forma que o esplendor do sol não ofusque a claridade das estrelas e da lua. Supõe além disto ter à mão tudo o que de belo se pode encontrar no mar, na terra, nos povoados, nas cidades, nos paços dos reis e dos monarcas do mundo inteiro. Junta a isto as bebidas mais delicadas, os alimentos mais saborosos, a música mais doce, a harmonia mais suave. Pois bem: tudo isto junto não é nada em comparação da excelência dos bens, dos gozos do Paraíso. Oh! como bem merece ser desejado e ardentemente amado aquele lugar onde se goza de todos os bens! O bem-aventurado não poderá deixar de exclamar: Estou saciado da glória do Senhor: Satiábor cum apparúerit glória tua.
2. Considera além disso o gozo que inundará a tua alma ao entrares no Paraíso. O encontro, o acolhimento dos parentes e dos amigos; a nobreza, a beleza dos Querubins, dos Serafins, de todos os Anjos e de todos os Santos, que aos milhões e milhões louvam o Criador; o coro dos Apóstolos, a multidão imensa dos Mártires, dos Confessores, das Virgens. Há também um exército enorme de jovens que por terem conservado a virtude da pureza, cantam a Deus um hino que ninguém mais pode entoar. Oh! quanto gozam naquele reino os bem-aventurados! Sempre mergulhados na alegria, sem a menor doença, sem desgostos e preocupações que perturbem a sua paz e o seu gozo!
3. Considera além disso, meu filho, que todos os bens até aqui enumerados são um nada em comparação do grande prazer que se experimenta na visão de Deus. Ele alegra os bem-aventurados com o seu olhar amorável e derrama nos seus corações um mar de delícias. Da mesma forma que o sol ilumina e embeleza o mundo inteiro, assim Deus, com a sua presença, ilumina todo o Paraíso e enche os seus afortunados habitantes de gozos inefáveis. Nele hás de ver como em um espelho, todas as coisas, gozarás de todos os prazeres da mente e do coração. São Pedro no Monte Tabor, por ter visto uma só vez o rosto de Jesus radiante de luz, ficou repleto de tanta doçura que exclamou fora de si: "Senhor, bom é para nós que fiquemos aqui: Bonum est nos hic esse. E lá teria ficado para sempre: Que prazer não será pois contemplar, não por um instante, mas para sempre, para sempre gozar desse rosto divino que enleva os Anjos e os Santos e que aformoseia todo o Paraiso! E a beleza e amabilidade de Maria, de que prazer deve também encher o coração do bem-aventurado! Oh! sim! quanto são amáveis os teus tabernáculos, ó Senhor! Quam dilecta tabernáculo, tua, Domine virtútum! Por isso os coros dos Anjos e dos bem-aventurados cantam a sua glória dizendo: "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos. A ele seja dada honra e glória por todos os séculos".
Coragem pois, meu filho; neste mundo terás que sofrer alguma coisa, mas não importa: o prêmio que hás de receber no Céu compensará infinitamente todos os teus sofrimentos. Que consolação não será a tua, quando te encontrares no Céu na companhia dos parentes, dos amigos, dos Santos, dos bem-aventurados e exclamares: "Estou salvo e estarei sempre com Deus: Semper cum Domino érimus". Então é que hás de abençoar a hora em que abandonaste o pecado, a hora em que fizeste aquela boa Confissão e começaste a frequentar os Sacramentos, o dia em que deixaste os maus companheiros e te entregaste à virtude. E cheio de gratidão te volverás para o teu Deus e cantarás seus louvores e sua glória por todos os séculos. Assim seja.

Meditações de São João Bosco: A eternidade das penas

1. Considera, meu filho, que se fores para o inferno, nunca mais dele sairás. Lá se sofrem todas as penas e todas eternamente. Passarão cem anos desde que caiste no interno, passarão mil e o inferno estará ainda em seu começo; passarão cem mil, cem milhões, passarão mil milhões de séculos e o inferno terá apenas iniciado. Se um anjo levasse aos condenados a notícia que Deus os quer libertar do inferno depois de passados tantos milhões de séculos quantas são as gotas de água do mar, as folhas das árvores e os grãos de areia da terra, esta notícia lhes causaria a maior satisfação. É verdade, diriam, que devem passar ainda tantos séculos, mas um dia hão de acabar. Pelo contrário, passarão todos esses séculos e todos os tempos que se possam imaginar e o inferno estará sempre no princípio. Todos os condenados fariam de boa vontade com Deus o seguinte, pacto: "Senhor, aumentai quanto entenderdes este meu suplício; deixai-me nestes tormentos por quanto tempo quiserdes, contanto que me deis a esperança de que um dia hão de acabar". Mas nada: esta esperança, este termo nunca chegará.
2. Se ao menos o pobre condenado pudesse enganar-se a si mesmo e iludir-se dizendo: Quem sabe, um dia talvez terá Deus piedade de mim e me arrancará deste abismo! Mas não, nem isto: verá sempre escrita diante de si a sentença de sua eternidade infeliz. Pois então, irá ele dizendo, todas estas penas, este fogo, estes gritos nunca mais acabarão para mim? Não, lhe será respondido, não, jamais. E durarão sempre? Sempre, por toda a eternidade. Sempre, verá escrito naquelas chamas que queimam; sempre, na ponta das espaldas que o transpassam; sempre, naqueles demônios que o atormentam; sempre, naquelas portas eternamente fechadas para ele. Oh! eternidade! oh! abismo sem fundo! oh! mar sem praias! oh! caverna sem saída! Quem não tremerá ao pensar em ti? Maldito pecado! que tremendos suplícios preparas para quem  te comete!  Ah! nunca mais, nunca mais pecarei durante a minha vida.
3. Mas o que deve encher de pavor é pensar que aquela horrível fornalha está sempre aberta debaixo de teus pés e que é suficiente um só pecado mortal para lá te fazer cair. Compreendes bem, meu filho, o que estás lendo? Uma pena eterna por um só pecado mortal que cometes com tanta facilidade. Uma blasfêmia, uma profanação dos dias santos, um furto, um ódio, uma palavra, um ato, um pensamento obsceno basta para seres condenado às penas do inferno. Oh! meu filho, escuta pois o meu conselho: Se a consciência te acusa de algum pecado, vai depressa confessar-te para começar uma vida boa. Põe em prática todos os meios que te indicar o confessor. Se for necessário, faze uma confissão geral. Promete que hás de fugir das ocasiões perigosas, dos maus companheiros e se Deus te indicasse até que deves deixar o mundo, segue logo a sua voz. Tudo que se fizer para evitar uma eternidade de tormentos, é pouco, é nada: Nulla nimia secúritas, ubi periclitátur aetérnitas (São Bernardo). Oh! quantos na flor da idade abandonaram o mundo, a pátria, os parentes, e foram viver isolados nas cavernas, nos desertos, alimentando-se somente de pão e água, e até às vezes só de raízes, e tudo isto para evitar o inferno! E tu, que fazes, depois de tantas vezes que mereceste o inferno com o pecado? que fazes? Lança-te aos pés do teu Deus e dize-lhe: "Senhor, estou pronto a fazer o que Vós quiserdes: nunca mais hei de pecar em minha vida; já por demais vos tenho ofendido; mandai-me todos os sofrimentos que quiserdes durante esta vida, contando que eu possa salvar a minha alma”.

Meditações de São João Bosco: O Inferno

1. O inferno é um lugar destinado pela justiça divina para punir com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal. A primeira pena que os condenado sofrem no inferno é a pena dos sentidos, que são atormentados por um fogo que queima horrivelmente, sem nunca diminuir de intensidade. Fogo nos olhos, fogo na boca, fogo em todas as partes. Cada sentido sofre a própria pena; os olhos sofrem pela fumaça e pelas trevas e são aterrados pela vista dos demônios e dos outros condenados. Os ouvidos, dia e noite, só escutam contínuos uivos, prantos e blasfêmias. O olfato sofre enormemente pelo mau cheiro daquele enxofre e pez ardente que o sufoca. A boca é atormentada por sede devoradora e fome canina: Et famem patiéntur ut canes. O mau rico no meio daqueles tormentos, ergueu o olhar ao Céu e pediu, como grande graça, uma pequena gota de água para mitigar a secura de sua língua e até essa gota de água lhe foi negada. Por isso, aqueles infelizes, requeimados de sede, devorados pelas chamas, atormentados pelo fogo, choram, gritam e se desesperam. Oh! inferno, inferno! Como são infelizes os que caem nos teus abismos! — E tu que dizes, meu filho? Se agora não podes conservar um dedo sobre a pequena chama de uma vela, se não podes aguentar nem uma fagulha de fogo na mão sem gritar, como poderás aguentar-te então entre aquelas chamas por toda a eternidade?
2. Considera além disso, meu filho, o remorso que experimenta a consciência dos condenados. Eles padecerão um inferno na memória, na inteligência, na vontade. Recordarão continuamente o motivo da sua perdição, isto é, por terem querido secundar alguma paixão. Esta lembrança é o verme que nunca morre: Vermis eórum non móritur. Recordarão o tempo que Deus lhes deu para evitar a perdição, os bons exemplos dos companheiros, os propósitos feitos e não cumpridos. Pensarão nos sermões ouvidos, nos avisos do confessor, nas boas inspirações para deixar o pecado; vendo que já não há remédio, lançarão gritos desesperados. A vontade nada terá do que deseja e ao contrário padecerá todos os males. A inteligência conhecerá finalmente o grande bem que perdeu. A alma separada do corpo, ao apresentar-se no tribunal divino, entrevê a beleza de Deus, conhece toda a sua bondade, chega quase a contemplar por um instante o esplendor do Paraíso, ouve talvez também os cantos harmoniosíssimos dos Anjos e dos Santos. Que dor verificar que perdeu tudo isso para sempre! Quem poderá resistir a tais tormentos?
3. Meu filho, tu que agora não te importas de perder o teu Deus e o Paraíso, conhecerás a tua cegueira quando vires tantos companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu, triunfarem e gozarem no reino dos Céus, ao passo que tu serás arrojado para longe daquela pátria feliz, do gozo do mesmo Deus, da companhia da Santíssima Virgem e dos Santos. Eia, pois, faze penitência, não esperes para quando não houver mais tempo: entrega-te a Deus. Quem sabe se não é este o último chamado e se não correspondes, quem sabe se Deus não te abandona e não te deixa cair naqueles eternos suplícios! Oh! meu Jesus, livrai-me do inferno: A poenis inférni, libera me, Domine!

Finalmente publicado no site do Vaticano, em português e diversas outras línguas, o motu proprio Summorum Pontificum, em que Bento XVI esclarece que é "lícito celebrar o Sacrifício da Missa segundo a edição típica do Missal Romano, promulgada pelo Beato  João XXIII em 1962 e nunca ab-rogada".

Até pouco tempo, o documento estava disponível apenas em latim e húngaro; mesmo assim, o aumento do número de celebrações da Missa Tridentina foi rápido e consistente no mundo inteiro.

domingo, 21 de julho de 2013


Santa Missa concelebrada pelo Arcebispo de Juiz de Fora, D. Gil Antonio Moreira, e pelo Arcebispo de Toulouse, França, D. Robert Le Gall.
Missa na Forma Ordinária do Rito Romano, celebrada em latim, com liturgia da palavra em português e homilia em francês de D. Le Gall.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

AVISO: aula de latim cancelada dia 13/07

Não haverá aula de latim em Juiz de Fora no sábado dia 13 de julho, pois o professor está em viagem.

domingo, 7 de julho de 2013

Meditações de São João Bosco: o inferno

Dom Bosco, rogai por nós!
1. O inferno é um lugar destinado pela justiça divina para punir com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal. A primeira pena que os condenado sofrem no inferno é a pena dos sentidos, que são atormentados por um fogo que queima horrivelmente, sem nunca diminuir de intensidade. Fogo nos olhos, fogo na boca, fogo em todas as partes. Cada sentido sofre a própria pena; os olhos sofrem pela fumaça e pelas trevas e são aterrados pela vista dos demônios e dos outros condenados. Os ouvidos, dia e noite, só escutam contínuos uivos, prantos e blasfêmias. O olfato sofre enormemente pelo mau cheiro daquele enxofre e pez ardente que o sufoca. A boca é atormentada por sede devoradora e fome canina: Et famem patiéntur ut canes. O mau rico no meio daqueles tormentos, ergueu o olhar ao Céu e pediu, como grande graça, uma pequena gota de água para mitigar a secura de sua língua e até essa gota de água lhe foi negada. Por isso, aqueles infelizes, requeimados de sede, devorados pelas chamas, atormentados pelo fogo, choram, gritam e se desesperam. Oh! inferno, inferno! Como são infelizes os que caem nos teus abismos! — E tu que dizes, meu filho? Se agora não podes conservar um dedo sobre a pequena chama de uma vela, se não podes aguentar nem uma fagulha de fogo na mão sem gritar, como poderás aguentar-te então entre aquelas chamas por toda a eternidade?
2. Considera além disso, meu filho, o remorso que experimenta a consciência dos condenados. Eles padecerão um inferno na memória, na inteligência, na vontade. Recordarão continuamente o motivo da sua perdição, isto é, por terem querido secundar alguma paixão. Esta lembrança é o verme que nunca morre: Vermis eórum non móritur. Recordarão o tempo que Deus lhes deu para evitar a perdição, os bons exemplos dos companheiros, os propósitos feitos e não cumpridos. Pensarão nos sermões ouvidos, nos avisos do confessor, nas boas inspirações para deixar o pecado; vendo que já não há remédio, lançarão gritos desesperados. A vontade nada terá do que deseja e ao contrário padecerá todos os males. A inteligência conhecerá finalmente o grande bem que perdeu. A alma separada do corpo, ao apresentar-se no tribunal divino, entrevê a beleza de Deus, conhece toda a sua bondade, chega quase a contemplar por um instante o esplendor do Paraíso, ouve talvez também os cantos harmoniosíssimos dos Anjos e dos Santos. Que dor verificar que perdeu tudo isso para sempre! Quem poderá resistir a tais tormentos?
3. Meu filho, tu que agora não te importas de perder o teu Deus e o Paraíso, conhecerás a tua cegueira quando vires tantos companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu, triunfarem e gozarem no reino dos Céus, ao passo que tu serás arrojado para longe daquela pátria feliz, do gozo do mesmo Deus, da companhia da Santíssima Virgem e dos Santos. Eia, pois, faze penitência, não esperes para quando não houver mais tempo: entrega-te a Deus. Quem sabe se não é este o último chamado e se não correspondes, quem sabe se Deus não te abandona e não te deixa cair naqueles eternos suplícios! Oh! meu Jesus, livrai-me do inferno: A poenis inférni, libera me, Domine!

domingo, 30 de junho de 2013

A GRANDE PROMESSA DO CORAÇÃO DE MARIA

(Aparição de Nossa Senhora à irmã Lúcia, vidente de Fátima, na cidade espanhola de Pontevedra)
J. M. J.
No dia 17-12-1927, foi junto do Sacrário perguntar a Jesus como satisfaria o pedido que Ihe era feito, se a origem da devoção ao Imaculado Coração de Maria estava encerrada no segredo que a SS. Virgem Ihe tinha confiado.
Jesus, com voz clara, fez-lhe ouvir estas palavras:
– Minha filha, escreve o que te pedem; e tudo que te revelou a SS. Virgem, na aparição em que falou desta devoção, escreve-o também; quanto ao resto do segredo, continua o silêncio.
O que em 1917 foi confiado a este respeito é o seguinte: ela pediu para os levar para o Céu. A SS. Virgem respondeu:
– Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve, mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no Mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação, e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o Seu trono.
– Fico cá sozinha? – disse, com tristeza.
– Não, filha. Eu nunca te deixarei. O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.
Dia 10-12-1925, apareceu-lhe a SS. Virgem e, ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A SS. Virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao mesmo tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos.
Ao mesmo tempo, disse o Menino:
– Tem pena do Coração de tua SS. Mãe que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam sem haver quem faça um acto de reparação para os tirar.
Em seguida, disse a SS. Virgem:
– Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante 5 meses, ao 1.° sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.
No dia 15-2-1926, apareceu-lhe, de novo, o Menino Jesus. Perguntou se já tinha espalhado a devoção a Sua SS. Mãe. Ela expôs-Lhe as dificuldades que tinha o Confessor e que a Madre Superiora estava pronta a propagá-la, mas que o Confessor tinha dito que ela, só, nada podia. Jesus respondeu:
– É verdade que a tua Superiora, só nada pode; mas, com a Minha graça, pode tudo.
Apresentou a Jesus a dificuldade que tinham algumas almas em se confessar ao sábado e pediu para ser válida a confissão de 8 dias. Jesus respondeu:
– Sim, pode ser de muitos mais ainda, contanto que, quando Me receberem, estejam em graça e que tenham a intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria.
Ela perguntou:
– Meu Jesus, as que se esquecerem de formar essa intenção?
Jesus respondeu:
– Podem formá-la na outra confissão seguinte, aproveitando a 1.ª ocasião que tiverem de se confessar.

[Padre Luís Kondor, SVD. Memórias da Irmã Lúcia I. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2007. Disponível online em http://www.pastorinhos.com/_wp/wp-content/uploads/MemoriasI_pt1.pdf]

sábado, 29 de junho de 2013

Meditações de São João Bosco: O juízo

São João Bosco, rogai por nós!
1. O juízo é a sentença que o Salvador ha de pronunciar no fim da nossa vida, sentença com a qual fixará o destino de cada um por toda a eternidade. Apenas a alma tiver saído do corpo, comparecerá logo perante o supremo Juiz. A primeira coisa que torna este comparecimento terrível à alma do pecador, é que a alma se encontrará sozinha na presença de um Deus desprezado, de um Deus que conhece todos os segredos do nosso coração, todos os nossos pensamentos. E que levaremos conosco? Levaremos aquele pouco de bem ou mal que tivermos feito durante a vida: Ut réferat unusquísque própria córporis, prout gessit, sive bonum, sive malum. Não se pode então inventar nem excusa nem pretexto nenhum. Santo Agostinho, falando deste tremendo comparecimento, diz: "Quando tu, ó homem, compareceres diante do Criador para seres julgado, terás sobre tua cabeça um juiz indignado; de um lado, os pecados que te acusam; de outro os demônios prontos a executar a condenação; dentro de ti uma consciência que te agita e te atormenta; debaixo de ti um inferno aberto, pronto a tragar-te". Em tais apertos, para onde irás, para onde fugirás? Feliz de ti, ó meu filho, se tiveres feito o bem durante a tua vida. Entretanto o divino Juiz abrirá os livros da consciência e começará o exame: Iudícium sedit, et libri apérti sunt.
2. Então dirá aquele Juiz inapelável: Quem és tu? — Sou um cristão, responderás. — Bem, replicará ele; se és cristão, vamos ver se procedeste como cristão. Em seguida começará  a recordar as promessas feitas no Santo Batismo, pelas quais renunciaste ao demônio, ao mundo, à carne; lembrar-te-á as graças que te concedeu, as muitas vezes que recebeste os  Sacramentos, as pregações, as instruções, os avisos dos confessores, as correções dos pais: tudo será posto diante de ti. — Mas tu, dirá então o divino Juiz, apesar de tantos dons, de tantas graças, oh! quão mal correspondeste à tua profissão de cristão! mal chegando à idade em que apenas começavas a conhecer-me, começaste a ofender-me com mentiras, com faltas de respeito na igreja, com desobediências a teus pais e com muitas outras transgressões dos teus deveres. Ainda bem se com o correr dos anos tivesses melhorado o teu procedimento, mas não: juntamente com a idade, aumentou em ti, infelizmente, também o desprezo à minha lei. Missas perdidas, profanação dos dias santos, blasfêmias, jejuns não observados, Confissões mal feitas, Comunhões às vezes sacrílegas, escândalos dados aos companheiros: eis o que fizeste em vez de servir-me.
Voltar-se-á para o escandaloso, cheio de indignação, dizendo: "Vês aquela alma que caminha pela estrada do pecado? Foste tu, com as tuas conversas imorais, que lhe ensinaste a malícia. Tu, como cristão que és, devias ensinar com o bom exemplo o caminho do Céu aos teus companheiros. Pelo contrário, traindo o meu Sangue, lhes ensinaste o caminho da perdição. Vês aquela alma no inferno? Foste tu com teus pérfidos conselhos que a arrancaste a mim para entregá-la ao demônio. Foste tu a causa da sua eterna perdição. Agora pague a tua alma por aquela outra que deitaste a perder com o teu escândalo: Répetam animam tuam pro anima illius".
Que te parece, meu filho deste exame? que te diz a consciência? estás ainda em tempo, se quiseres: pede a Deus perdão de teus pecados e faze um sincero propósito de não tornar a pecar. Começa desde hoje uma vida de bom cristão, preparando-te assim um tesouro de boas obras para o dia em que deverás comparecer perante o tribunal de Jesus Cristo.
3. À vista das rigorosas contas que o Juiz supremo exige do pecador, tentará este aduzir alguma excusa ou pretexto, dizendo que não sabia que deveria ser submetido a um exame tão rigoroso. Mas receberá esta resposta: "E não ouviste aquele sermão e aquela explicação do catecismo? Não leste naquele livro que eu haveria de pedir rigorosas contas de tudo?" O infeliz então se encomendará à misericórdia divina; mas a misericórdia não é mais para ele, porque não merece misericórdia quem por tanto tempo dela abusou e porque na morte termina o tempo da misericórdia. Recomendar-se-á aos Anjos, aos Santos, a Maria Santíssima; e Maria responderá por todos: "Agora é que pedes o meu auxílio? Não me quiseste por mãe durante a vida e agora já não te quero por filho; já te não conheço".
Então o pecador, não encontrando mais nenhum refúgio, gritará às montanhas, aos rochedos que o cubram e eles não se moverão. Invocará o inferno e vê-lo-á aberto: Inférius horréndum chaos. Esse é o momento em que o inexorável Juiz proferirá a tremenda sentença: "Filho infiel, dirá, para longe de mim. Meu Pai celeste te amaldiçoou: eu também te amaldiçoo. Vai para o fogo eterno" a gemer e sofrer com os demônios por toda a eternidade: Discédite a me, maledícti, in ignem aetérnum".
Aquela alma infeliz, antes de afastar-se para sempre do seu Deus, volverá pela última vez o olhar ao Céu e no auge da desolação dirá: "Adeus, companheiros, adeus, amigos que habitais o reino da glória; adeus, pai, mãe, irmãos, irmãs; vós gozareis para sempre e eu serei para sempre atormentado. Adeus, meu Anjo da Guarda, Anjos e Santos todos do Paraíso: não vos tornarei a ver jamais. Adeus, ó Salvador, adeus, ó Cruz santa, adeus, ó Sangue em vão por mim derramado; não vos tornarei a ver mais. Desde este momento eu não sou filho de Deus; serei para sempre escravo dos demônios no inferno". — Então os demônios, que já terão ficado senhores dessa alma, arrastando-a e empurrando-a, a farão cair nos seus abismos de torturas, de misérias, de tormentos eternos.
Meu filho, não receias que tal sentença seja também a tua? Ah! por amor de Jesus e de Maria, prepara com boas obras uma sentença favorável e lembra-te que como é terrível a sentença proferida contra o pecador, igualmente consolador será o convite que há de dirigir Jesus a quem viveu cristãmente. "Vem, dirá, vem para a posse da glória, que te preparei. Tu me serviste com fidelidade no breve tempo de tua vida; agora gozarás eternamente : Intra in gáudium Dómini tui".
Meu Jesus, concedei-me a graça de poder ser também eu um desses bem-aventurados. Virgem Santíssima, ajudai-me; protegei-me na vida e na morte e especialmente quando me apresentar ao vosso divino Filho para ser julgado.

Meditações de São João Bosco: A morte

Dom Bosco em meio aos jovens
1. A morte é a separação da alma do corpo, com um total abandono das coisas deste mundo. Considera, portanto, meu filho, que a tua alma deverá separar-se do corpo; mas não sabes onde se dará esta separação. Não sabes se a morte te assaltará na tua cama, ou durante o trabalho, ou na rua, ou em outra parte. A ruptura de uma veia, uma hemorragia, uma febre, uma chaga, uma queda, um terremoto, um raio, bastam para te tirar a vida. Isso pode acontecer daqui a um ano, daqui a um mês, a uma semana, a uma hora e talvez, ao terminar a leitura desta consideração. Quantos se deitaram à noite cheios de saúde e de manhã foram encontrados mortos! Quantos acometidos de algum ataque morreram de repente! E depois para onde foram? Se estavam na graça de Deus felizes deles! Gozarão para sempre. Sei, pelo contrário, se achavam em pecado mortal, estão para sempre perdidos. Dize-me, filho, se tivesses que morrer neste instante, que seria de tua alma? Ai de ti, se não te manténs sempre preparado! Quem não está hoje preparado para bem morrer, corre grande perigo de morrer mal.
2. Embora seja incerto o lugar e incerta a hora de tua morte, é, porém muito certo que a morte há de vir. Quero esperar que a última hora de tua vida não venha repentinamente ou de modo violento, mas aos. poucos e precedida de uma doença comum. Mas há de chegar um dia no qual, estendido numa cama, estarás prestes a passar à eternidade assistido por um sacerdote que encomendará tua alma, tendo um crucifixo ao lado, uma vela acesa do outro e em derredor os parentes que choram. Terás a cabeça dolorida, os olhos embaçados, a língua ressequida, a garganta presa, a respiração ofegante, o sangue a arrefecer, o corpo exausto, o coração oprimido. E assim que a alma expirar, o teu corpo vestido de poucos andrajos será lançado a apodrecer em uma cova. Aí os ratos e os vermes roerão todas as tuas carnes e de ti restarão apenas alguns ossos descarnados e um pouco de pó repugnante. Abre um sepulcro e vê a que ficou reduzido aquele jovem rico, aquele ambicioso, aquele soberbo. Lê com atenção estas linhas, meu filho, e lembra-te que elas se aplicam também a ti, igualmente como a todos os demais homens. Agora o demônio, para induzir-te a pecar, procura arrancar-te deste pensamento e levar-te a excusar as tuas culpas dizendo-te não ser enfim tão grande mal aquele prazer, aquela desobediência, aquela omissão da Missa nos domingos. Mas na hora da morte descobrir-te-á a gravidade destes e de outros teus pecados, pondo-os diante de ti. E que haverás de fazer tu então, no momento de te encaminhares para a tua eternidade? Ai de quem se achar em desgraça de Deus naquele instante! 3. Considera que do instante da morte depende a tua eterna salvação ou eterna perdição. Nas proximidades da morte, ao avizinhar-se aquela última vez que a boca se fecha, à luz daquela vela, quantas coisas se hão de ver! Duas vezes temos diante de nós uma vela acesa: quando somos batizados e em ponto de morte; a primeira vez, para conhecermos os preceitos da lei divina que devemos guardar; a segunda, para que vejamos se os temos cumprido. Por isso, meu filho, à luz dessa vela hás de ver se amaste o teu Deus ou se o desprezaste; se honraste o seu santo nome ou se o blasfemaste; hás de ver os dias santos profanados, as Missas deixadas, as desobediências aos superiores, os maus exemplos dados aos companheiros; verás aquela soberba, aquele orgulho que te lisonjeava; verás... mas, oh! meu Deus! tudo verás naquele momento, no qual se abrirá diante de ti o caminho da eternidade; Moméntum a quo pendet aetérnitas. Oh! grande, oh! terrível momento, do qual depende uma eternidade de glória ou de tormentos! Compreendes bem o que te digo? Quero dizer que daquele momento depende ir para o Céu ou para o inferno; ser para sempre feliz ou para sempre infeliz; para sempre filho de Deus ou para sempre escravo do demônio; para sempre gozar com os Anjos e com os Santos do Céu ou gemer e arder para sempre com os condenados no inferno!
Teme grandemente pela tua alma e pensa que do viver bem depende uma boa morte e uma eternidade de glória. Por isso, não defiras por mais tempo e prepara-te desde já para fazer uma boa Confissão e dispor bem as coisas da tua consciência, prometendo a Nosso Senhor perdoar aos teus inimigos, reparar os escândalos dados, santificar os dias de guarda, cumprir os deveres do teu estado.
E agora, põe-te na presença do teu Deus e dize-lhe de coração: "Meu Deus, desde este momento eu me converto a Vós; amo-vos, quero amar-vos e servir-vos até à morte. Virgem Santíssima, minha Mãe, ajudai-me naquele terrível momento. Jesus, José e Maria, expire em paz entre vós a minha alma".