2. Considera além disso, meu filho, o remorso que experimenta a consciência dos condenados. Eles padecerão um inferno na memória, na inteligência, na vontade. Recordarão continuamente o motivo da sua perdição, isto é, por terem querido secundar alguma paixão. Esta lembrança é o verme que nunca morre: Vermis eórum non móritur. Recordarão o tempo que Deus lhes deu para evitar a perdição, os bons exemplos dos companheiros, os propósitos feitos e não cumpridos. Pensarão nos sermões ouvidos, nos avisos do confessor, nas boas inspirações para deixar o pecado; vendo que já não há remédio, lançarão gritos desesperados. A vontade nada terá do que deseja e ao contrário padecerá todos os males. A inteligência conhecerá finalmente o grande bem que perdeu. A alma separada do corpo, ao apresentar-se no tribunal divino, entrevê a beleza de Deus, conhece toda a sua bondade, chega quase a contemplar por um instante o esplendor do Paraíso, ouve talvez também os cantos harmoniosíssimos dos Anjos e dos Santos. Que dor verificar que perdeu tudo isso para sempre! Quem poderá resistir a tais tormentos?
3. Meu filho, tu que agora não te importas de perder o teu Deus e o Paraíso, conhecerás a tua cegueira quando vires tantos companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu, triunfarem e gozarem no reino dos Céus, ao passo que tu serás arrojado para longe daquela pátria feliz, do gozo do mesmo Deus, da companhia da Santíssima Virgem e dos Santos. Eia, pois, faze penitência, não esperes para quando não houver mais tempo: entrega-te a Deus. Quem sabe se não é este o último chamado e se não correspondes, quem sabe se Deus não te abandona e não te deixa cair naqueles eternos suplícios! Oh! meu Jesus, livrai-me do inferno: A poenis inférni, libera me, Domine!
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