sexta-feira, 7 de junho de 2013

Meditações de São João Bosco: Fim do homem

Dom Bosco escutando as confissões dos jovens
1. Considera, meu filho, que este teu corpo, esta tua alma te foram dados por Deus, sem nenhum merecimento de tua parte, quando te criou à sua imagem. Ele te fez seu filho no Santo Batismo, amou-te e ama-te ainda com ternura de pai e criou-te para este único fim: para que o ames e o sirvas nesta vida e possas assim ser um dia eternamente feliz com Ele no Céu.
Não estás portanto no mundo somente para gozar, nem para enriquecer, nem para comer, beber e dormir, como os animais. O teu fim é muitíssimo mais nobre e mais sublime; o teu fim é amar e servir ao teu Deus e salvar a tua alma. Se assim fizeres, quantas consolações experimentarás na hora da morte! Mas se não procurares servir a Deus, quantos remorsos terás no fim da vida! As riquezas, os prazeres que buscaste com tanto afã somente te servirão para encher o teu coração de amargura e então conhecerás o mal que tais coisas fizeram à tua alma.
Meu filho, não queiras de modo algum pertencer ao número daqueles que pensam somente em satisfazer o corpo com atos, conversas e divertimentos maus. Naquela hora extrema se encontrarão em grande perigo de se condenarem eternamente. Um secretário do rei da Inglaterra expirava dizendo: "Ai de mim! gastei tanto papel em escrever as cartas do meu príncipe e não usei uma folha sequer para tomar nota dos meus pecados e fazer uma boa Confissão!"
2. Torna-se ainda maior aos teus olhos a importância deste fim, se consideras que dele depende a tua salvação ou a tua perdição. Se salvas a alma, tudo estará bem e gozarás para sempre; mas se não alcançares isto, perderás alma e corpo, Deus e Paraíso e serás condenado para sempre. Não imites aqueles infelizes que se iludem dizendo: "Cometo este pecado, mas depois me confessarei". Não te enganes a ti mesmo desta forma. Deus amaldiçoa a quem peca na esperança do perdão: Maledíctus homo qui peccat in spe. Lembra-te que todos os que estão no inferno tinham esperança de emendar-se mais tarde e no entanto se perderam eternamente. Quem sabe se depois terás tempo para confessar-te? Quem te garante que não hajas de morrer logo depois do pecado e que a tua alma não seja precipitada no inferno? Além disso, que grande loucura não seria ferir-te a ti mesmo na esperança de que o médico te venha depois curar a ferida! Afasta pois a enganadora ideia de poderes entregar-te a Deus mais tarde. Neste mesmo momento detesta e abandona o pecado, que é o maior de todos os males e que, afastando-te do teu fim, te priva de todos os bens.
3. Quero ainda indicar à tua consideração um laço terrível com que o demônio prende e arrasta à perdição tantos cristãos: é deixar que aprendam as coisas da religião, mas não as pratiquem. Eles sabem que foram criados por Deus para amá-lo e servi-lo e entretanto, com suas obras, parece que buscam somente a própria ruína. Quantas pessoas não vemos nós neste mundo que em tudo pensam menos em salvar-se? Se digo a um jovem que frequente os Sacramentos, que faça um pouco de oração, responde-me: "Tenho mais que fazer; preciso trabalhar, preciso divertir-me". Ó infeliz! E acaso não tens uma alma para salvar?
Por isso, tu, ó jovem cristão, que lês esta consideração, vê lá, não te deixes enganar desta maneira pelo demônio. Promete a Deus que tudo o que fizeres ou disseres e pensares no futuro será para o bem da tua alma; porque seria a maior loucura ocupar-te com tanto empenho no que acaba tão depressa e pensar tão pouco na eternidade, que nunca há de acabar. São Luiz podia ter prazeres, riquezas e honras, mas renunciou a tudo dizendo: "Que me serve tudo isto para a minha eternidade?" — Quid haec ad aeternitátem? — Conclue também tu da mesma maneira: "Tenho uma alma; se a perco, perco tudo. Que me vale ganhar o mundo inteiro, se isto for com prejuízo de minha alma? Quid enim prodest hómini, si mundum univérsum lucrétur, ánimae vero suae detriméntum patiátur? De que me serve vir a ser um grande homem, um ricaço, adquirir fama de sábio, tornando-me conhecedor de todas as artes e ciências deste mundo, se depois vier a perder a minha alma?" De nada te serviria toda a sabedoria de Salomão, se viesses a perder-te.
Dize pois assim: "Fui criado por Deus para salvar a minha alma e a quero salvar a todo o custo. Quero que no futuro o único fim das minhas ações seja amar a Deus e salvar a minha alma. Trata-se de ser ou para sempre feliz ou para sempre infeliz. Perca-se tudo, contanto que me salve! Meu Deus, concedei-me o perdão dos meus pecados e fazei que não caia jamais na desgraça de ofender-vos. Ajudai-me com a vossa santa graça para que possa fielmente amar-vos e servir-vos para o futuro. Maria, minha esperança, intercedei por mim".
(Fonte: Dom Bosco: O Jovem Instruído. São Paulo: Livraria Salesiana Editora, 1952, páginas 52-55)

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