sábado, 8 de junho de 2013

Sobre a Tríplice Concupiscência e os Conselhos Evangélicos

São João Maria Vianney,
rogai por nós e pelos sacerdotes
“Porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba de vida” (I Jo II, 16).

Com estes versículos, São João resume bem as consequências do pecado original que todos os homens, a exceção de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima, nasceram sob o domínio.
 Por concupiscência da carne ele se refere ao apego desordenado à sensualidade, seja ele através da gula e do abuso da bebida, que é como que uma preparação para o próximo estágio, seja através da falta de castidade, que toda a humanidade é chamada a viver, segundo seu estado de vida (como a castidade conjugal, em que os esposos têm relações sexuais com a abertura à procriação e como remédio para a própria concupiscência). É inclusa aí a luxúria.
 Por concupiscência dos olhos ele se refere ao apego desordenado aos bens temporais. E inclusa aí a avareza. Vai contra o desapego dos bens materiais que a Igreja sempre convidou a todos a terem, ricos e pobres, e ao auxílio daqueles que tem mais devem dar aos que tem menos.
 Por soberba de vida, São João se refere ao orgulho, à soberba, talvez a cabeça de todos os pecados e o único pecado que fez perder os anjos.
 Como remédio, devemos sempre pedir em oração ao Espírito Santo as virtudes que são contrárias: a castidade, o desapego dos bens materiais e a humildade; e rezar uns pelos outros para que correspondamos à graça de Deus, que nunca nega àqueles que pedem com o coração sincero.
 A uma classe de filhos da Igreja, na qual Nosso Senhor Jesus Cristo chama a uma santidade maior, ele dá os chamados conselhos evangélicos. Estes conselhos são seguidos pelos religiosos e religiosas, mas, sobretudo, pelos sacerdotes, classe de filhos da Igreja que deve exceder em santidade a todas as outras, até mesmo a dos religiosos.
 Os conselhos evangélicos, como o próprio nome indica, são conselhos e não são para todos. Para a humanidade inteira são necessárias as virtudes citadas: castidade segundo o estado de vida; desapego dos bens materiais; humildade. Para estes filhos chamados a um alto grau de santidade Nosso Senhor dá os conselhos, que são: os votos de castidade, de pobreza e de obediência.
 O voto de castidade é vivido na completa continência, abstendo-se de toda e qualquer relação sexual.
 O voto de pobreza é vivido não tendo posse de nada (esse voto, pelas suas particularidades, pode ser vivido desde a renúncia da posse e do usufruto dos bens; até a renúncia da posse, mas com manutenção do usufruto dos bens, principalmente de objetos pessoais, como as vestes, livros e paramentos litúrgicos).
 O voto de obediência, talvez o menos compreendido atualmente, consiste em sacrificar a vontade em favor da vontade do superior. Revela um alto grau de humildade. Mas é preciso salientar que não é obediência cega, sem discernimento. Dou alguns exemplos: um superior que ordenasse um pecado não deveria ser obedecido, como um que mandasse seu inferior matar alguém; uma ordem iníqua também não deve ser obedecida, como por exemplo, um superior que, para punir a falta do seu inferior, mandasse ficar nu em frente da comunidade para humilhá-lo; igualmente aquele superior que vendo que seu inferior tem grande amor para com a Eucaristia, mandasse profana-la para puni-lo. A obediência é, sobretudo, naquilo que a Igreja sempre ensinou. São Paulo já dizia que se um anjo viesse e pregasse outro evangelho, seja anátema! Da mesma forma, se um anjo ordenasse algo diferente do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, seja também anátema.
 O demônio, em suas tentações, usa o lado mais fraco da pessoa. Para aqueles obrigados aos conselhos evangélicos por voto, ele vê em qual voto a pessoa tem mais fraqueza. Lamentavelmente, é principalmente contra um dos três votos que ocorre a queda daqueles que o fazem, sobretudo os padres.
 Por isso, devemos sempre rezar pelo clero, sobretudo pelos sacerdotes, para que tenham as graças necessárias de Deus para manter os três votos e progredir sempre na santidade. Devemos pedir mais ainda se sabemos de alguém que teve a desgraça de não corresponder à graça de Deus e violou um dos votos. Estes, principalmente, necessitam de nossas orações e de nossas mortificações, unidas, pelas mãos de Nossa Senhora, aos sacrifícios de Cristo, em especial ao Sacrifício da Missa.
A superação da crise da Igreja passará necessariamente por nossa santificação, mas, sobretudo, pela santificação daqueles que tem a cura das almas, pois eles são instrumento de santificação dessas almas.

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