quinta-feira, 30 de maio de 2013

Alguns Aspectos da Liturgia Romana

Papa Pio XII celebrando a Missa
A Liturgia Romana formou-se em desenvolvimento orgânico ao longo dos séculos que se sucederam à primeira geração de cristãos. A Sé Romana teve em São Pedro o seu primeiro bispo, o primeiro papa da história. De sua liturgia primordial pouco se tem notícia, porém as grandes linhas da cultura romana, que ainda persistem na atual forma litúrgica, dão-nos uma idéia. Era uma liturgia sóbria, com fórmulas breves, concisas e de grande profundidade, em que todo o improviso foi dando espaço a fixação das melhores formas.
Por escrito, temos remanescentes desta liturgia no ordinário da missa e em várias orações variáveis do Missal Romano de 1962.
No século VI, o grande espírito de Gregório Magno fez algumas alterações na forma da missa, com algumas reações contrárias por parte de alguns. Ele foi o responsável pelo pedido de paz no embolismo ao Pai-Nosso e ao Cânon.
Deste período, a Liturgia Romana ainda foi enriquecida por ritos simbólicos, como os diversos sinais da cruz, por ritos de adoração que representaram uma melhor compreensão da transubstanciação que ocorria durante a missa, como as múltiplas genuflexões e as duas elevações para a adoração do povo durante as consagrações do Corpo e Sangue de Cristo.
Tal desenvolvimento culminou na alta Idade Média e, como reflexo da Civilização Cristã em declínio, declinou até a chegada da Renascença e da Reforma.
Em meio à tempestade da Reforma e a Contra-Reforma, o Concílio de Trento identificou um grande problema para a fé da Igreja: desde tempos remotos, cada diocese tinha o direito de regular como quisesse a própria liturgia. E se a maioria do ocidente seguisse uma forma de liturgia que possa ser considerada como uma família litúrgica romana, a própria maneira de celebrar a missa poderia variar muito em detalhes secundários e até em partes primordiais.
Essa liberdade, que durante a longa primavera da fé que foi a Idade Média foi causa de belíssimas formas de culto a Deus, foi rapidamente usada pelos reformadores para os seus fins vis e sórdidos. O próprio Lutero, iniciador da Reforma, foi gradualmente modificando a Missa. A princípio suprimiu as partes que eram ditas em secreto (como o ofertório e o Cânon) e após inserindo a alemão na liturgia, não sem oposição dos fiéis.
Trento decretou que a Missa seria revisada e deu tal incumbência ao papa. São Pio V promulgou um missal revisado segundo os Santos Padres e doutores, que foi como que uma edição crítica dos textos da missa, utilizando-se os melhores recursos disponíveis à época, com ele próprio diz na bula de promulgação. A este missal deveria se conformar todas as dioceses que não tivessem um rito de mais de duzentos anos de duração. Sob esta clausula, ficava a salvo todas as antiquíssimas liturgias do oriente, que remontam ao século IV, V e VI, e as liturgias de algumas dioceses, como Milão, Braga e a Liturgia da Espanha sob dominação muçulmana (liturgia moçárabe), além das liturgias das ordens, como a carmelita, a dominicana, a cartuxa, etc.
Nunca na história da Igreja um missal havia sido imposto sobre os missais em uso, por isso São Pio V foi de uma delicadeza exemplar ao dar a resposta que a confusão protestante havia infiltrado na Igreja. Ao extirpar os missais impregnados com a nova fé, o papa conseguiu preservar intacta a Fé Católica no coração dos fiéis e principalmente do clero. Ao se folhear um Missal Tridentino, identifica-se em suas orações não apenas uma beleza estética impressionante, mas um frescor jovial que reflete uma fé pura, produto do ápice da Civilização Cristã.
A grande barreira ao protestantismo foi posta ao se promulgar este missal e todos os papas vindouros perceberam isso, por isso evitavam ao máximo modificar o que fosse nele. Quando a edição primeira começou a ser rara e alguns editores começaram a querer corrigir certos textos da missa, como os intróitos (que na sua forma, são retirados da Vetus Vulgata e não da Vulgata de são Jerônimo), outros papas tiveram que republicá-lo. Aproveitaram a ocasião para fazer alguns reparos que acharam necessários e para enriquecê-los com novas missas, sobretudo de santos recém canonizados.
Este Missal, praticamente intacto, com apenas algumas alterações secundárias, é o que chegou até a sua última Edição Típica de 1962, promulgado sob a autoridade do beato João XXIII e que, com o Motu Proprio Summorum Pontificum, o papa Bento XVI relembrou que nunca havia sido ab-rogado e que seria lícito usá-lo.

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